sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Era Pilates

Era sempre assim. Colocava uma coisa na cabeça e não desistia até conseguir realizá-la. Foi assim também com a inscrição que fez na academia de ginástica. Não sossegou enquanto não fechou seu pacote anual com aulas de bike, natação, capoeira, musculação, tortura chinesa e pilates. Bastou assinar os cheques e chegar em casa para se arrepender de ter tido seu súbito de vida saudável e ativa.
Após duas semanas de encorajamento em doses homeopáticas e compras de maiô, toucas e calças que apertavam até o pensamento, dirigiu-se arrastada até a academia com a intenção de fazer valer os reais que “investiu” na mensalidade.
Pilates foi a opção mais aventureira que podia escolher.
Já ouvira falar da tal modalidade avançada e tonificante, mas sem grandes descrições e definições. Gostou do nome diferentinho e assim se juntou aos alunos da sala dois, no final da escada à direita.
Como era seu primeiro contato com a prática desconhecida, resolveu agir como os outros e, numa imitação desengonçada, agarrou uma tal bola gigantesca num braço e um tatame azul em outro e arrastou até o final da sala. Pelos aparatos necessários, pela luz apagada e até mesmo pela música de filme com final infeliz, logo percebera que a escolha havia sido uma furada. Um arrependimento amargo bateu.
Uma voz de lá da frente da sala com espelhos ecoou: “Posição de relaxamento!”. Que raios seria essa posição!? Gostou da palavra “relaxamento”. Qualquer que fosse a posição, relaxar é sempre bom... Olhou para o lado e imitou a maioria.
Deitada de costas no tatame azulão e com as pernas jogadas em cima da bola extragrande começou a gostar do assunto. Resolveu prestar atenção e ouviu outra instrução: “Ativem seus abdomens...”... Hum!?!? Ativar?
“Inspire... Expire... Inspire em três e Expire em seis... em quatro por oito... Ative o abdômen...”
Enquanto a música tocava calma, instruções vinham de todos os cantos da sala e, além do esforço físico, respiratório, mental, matemático e mimético, ainda tinha o esforço didático das aulas de anatomia que perdera na oitava série.
“Abracem a Tíbia e levem-na até o Perônio... Inspire, expire, ative o abdômen... olha a bola”... Cadê a Tíbia? Por um momento pensou em abraçar a aluna do tatame ao lado, mas achou um pouco pessoal demais para uma aula aparentemente tão individualizada. Opa! Mudou o movimento.
“Inspiração pelo nariz, expande a caixa torácica na porção lateral de posterior e expira pela boca, fechando a caixa torácica e projetando as últimas vértebras em direção à pélvis. Agora alterem a angulação “Q” do tendão do quadríceps femoral, alonguem o ligamento patelar e conduzam o movimento num “C” curto da espinha ilíaca ântero-superior contando as 32 vertebrinhas... Intensificando a pressão... Vamos lá! Inspire... Expire... Ativem...”
Resolveu começar a hidroginástica na semana que vem, quando seus músculos, com sorte, estarão menos doloridos.