sexta-feira, 9 de abril de 2010

Saudade

Sentia que alguma coisa ali dentro estava diferente. Uma sensação de faltar ar, de faltar sim e faltar não, de faltar algum, faltar alguém, falta de nós.
Era como terço sem reza, vela acesa sem clarão ou anéis de metal sem os dedos da mão. Era lousa sem giz, adeus sem partida, quase viagem sem despedida.
Ali dentro era vazio, era eco, era vácuo, era escuro, era nada, era tudo... Assim como brasa sem cinza, anil sem cor, banho sem vapor e louca paixão sem ardor. Era giro sem mundo, poço sem fundo, canção em um segundo.
Naquele instante nada fazia sentido, faltavam sussurros ao pé do ouvido, poesia que fala de amor doído. Sentia-se como um livro sem fim, praia sem maresia ou flores secas num jardim. O tempo passava como um relógio sem ponteiro, missas de joelho, neblina e nevoeiro.
Fusco, põe-se a pensar e deu-se conta que chamava de saudade essa dor de não se ter metade, dia de sol que num instante vira tempestade, é abraço que não chega e deixa vontade.
É saudade. Assim, sem rima, sem fim se você insiste em ficar longe de mim.

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