quinta-feira, 17 de junho de 2010

Caixa de Retalhos

Sentada no chão de pernas dobradas, vasculhava numa caixa antiga alguns papéis do passado. Procurava por um texto que um dia alguém lhe escreveu. Um texto bobo, comprido, romântico, doído. Um texto escrito em papel pautado, letra trabalhada, pintado com caneta que brilhava num verde pálido. Lembrava as cartas escritas nos séculos distantes para anunciar um acontecimento bom... parecia com as missivas que os amantes trocavam ilegais entre as vilas antigas que, mesmo sorrateiros, geravam guerras entre os brasões.
Revirou a caixa velha e já molenga e por lá encontrou coisas que lhe fizeram voltar há alguns tempos atrás... encontrou dentro do baú improvisado coisas boas, coisas inúteis, fotos borradas, cartas rasuradas, cartões de aniversário e de desejos de boa sorte.
Encontrou ali um pedaço pequeno de si. Um pedaço que ficara esquecido e, que abafado dentro da tal caixa, adormeceu num coma profundo. Releu alguns textos antigos, alguns anúncios que vendiam fantasias, outros que pediam socorro e pensou se era possível resgatar aquilo tudo. A caixa era pequena, mas o que guardava era grande demais para caber em outro lugar. Preferiu fechar a caixa e manter tudo ali... adormecido como estava. Deixou o tal texto bobo pra lá e preferiu buscá-lo na lembrança...

... “E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas...”

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