segunda-feira, 28 de junho de 2010

Na espera

Foi no anúncio da sua espera que o rútilo dos meus olhos mudou de cor. No lume de um palpitar vazio e sem compasso a curva do meu rosto se umedeceu. Lúbrica, na vértice de sorver pelo chão, uma gota foi amparada por um lábio que decifrava os significados do tempo.
Esperava eu, na ânsia de uma vinda falsa, suas botas no meu capacho. Ainda que deixadas do lado de fora, ainda que sujas ou velhas ainda esperava eu por um voltar sem volta . Na promessa declamada num dia cinza, guardava no frio das mais altas ameias um coração aflito que, paciente, aguardava por esperar.
Na esperança da espera, notei que vivera até aqui gozando de meus dias como se eles fossem infindos, como se o calendário, agora desbotado e com orelhas, marcasse sempre o primeiro dia de cada mês e os meses que surgem são sempre meses sem feriados.
Foi por esperar demais que aprendi que os dias devem ser vividos como se fossem os últimos da folhinha, que os amores devem ser amados como se amanhã não houvesse paz, que os sorrisos devem ser dados como se fossem perder o som, que se deve tocar como se a mão perdesse o toque, como se a boca perdesse o tom...

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