quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Colombina

Num quarto à meia luz ela pintava os olhos e a boca, as bochechas já eram rubras de se ver e um brilho prateado quase lhe escondia os ombros. Pendurado na porta do guarda-roupa, um vestido lilás esperava ansioso pra sair naquela noite, o quarto exalava perfume de romance e da janela já se podiam ouvir as marchinhas que vinham da Avenida Sete. O coração ritmava em som de liberdade e um excesso de euforia vazava-lhe pelos poros. Aquela noite prometia perfeição e a lua anunciava mais um espetáculo do Carnaval.
Do outro lado da cidade, desenhava do lado esquerdo da face uma lágrima azul. O rosto parecia pálido e languido, as sobrancelhas fartas e pesadas saltavam lhe os olhos e do sorriso, somente um traço triste que fazia contraste com as cores daquele lugar. Para vestir, nada mais que o brilho num olhar ingênuo a esperar por uma dama foliã.
Ela, embebida de encanto e frenesi. No vestido, borboletas e lantejoulas. Ele, contido ansioso a procurar. Os outros... bom, os outros eram apenas rastros na paisagem.
Na rua, as pessoas desenhavam vida com os corpos e no movimento daquela multidão o som mudou. Os olhos, que procuravam por felicidade, dilataram-se frente a tanta delicadeza. Por um mísero instante se encontraram de relance, semearam delírios e desviaram-se encolhidos. As marchas tocavam sem fim e o som dos tambores acompanhava agora as batidas do coração. Um coração que batia descompassado.
Naquela loucura carnavalesca, os blocos misturavam cores e sentimentos, no coração paz e terror e, para Pierrot, a lágrima deixou de ser apenas tinta. O Carnaval em segundos chegou ao fim. Passou.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você continua a fazer textos que nos deixam sem palavras... uau